Especialista afirma que falta de oportunidade, de um local adequado ou de um parceiro são contextos que geram abstinência de sexo
Uma pessoa consegue viver bem sem fazer sexo por um longo período? Não faz muito tempo que o empresário bilionário Elon Musk publicou em suas redes sociais que “não faz sexo há séculos”, ao tentar se defender do boato de que teria se relacionado com Nicole Shanahan, ex-exposa de seu amigo e cofundador do Google, Sergey Brin.
Não demorou muito tempo para as pessoas começarem a se perguntar: ficar anos sem ter uma relação sexual traz riscos à saúde?
A ciência diz que sim, principalmente se for uma pessoa saudável, que gosta e sente vontade de fazer o ato. Em entrevista ao jornal O Globo, a coordenadora do programa de estudos em sexualidade da Universidade de São Paulo (USP), Carmita Abdo, afirmou que o importante para a medicina é o sofrimento que o paciente possa ter sem praticar o ato sexual, causado angústia, mal-estar e desconforto.
Esses desfechos negativos, citados pela psiquiatra como “sofrimento”, podem trazer riscos físicos e psicológicos graves. Começando por uma crise de ansiedade criada pelo desejo insatisfeito, que evolui para uma depressão do sistema imunológico e posteriormente do sistema nervoso central. O paciente se sente mais vulnerável, sua autoestima cai, seu corpo sofre alterações e fica fisicamente mais fraco, o que estimula o aparecimento de doenças bacterianas, viroses e até mesmo infecções generalizadas.
“São várias as indagações que se passam na cabeça dessa pessoa, que acaba tendo seu quadro de saúde agravado e contribuindo para um maior período sem relações sexuais. Ela começa a se perguntar se é bonita o suficiente ou o porquê de ninguém se interessar por ela a ponto de não querer ir para a cama. Há outros desdobramentos também, como rejeitar contatos sexuais, por não ter tido êxito nas atividades anteriores e querer evitar novos vexames. É uma bola de neve, que vai ficando cada vez maior até explodir em ansiedade, depressão, vulnerabilidade imunológica e doenças físicas” – explica Abdo.
O sexo para ser completo precisa ser satisfatório para ambas as partes. É essa experiência plena que libera um maior fluxo de dopamina, endorfina e oxitocina, hormônios que fazem bem à saúde do corpo e da mente e ajudam na vontade de repetir o ato em outras ocasiões.
Então, qual seria o tempo máximo de intervalo até essa falta prejudicar a saúde física e mental?
Segundo os cientistas, o tempo máximo de intervalo até a falta de sexo prejudicar a saúde física e mental varia de acordo com os hábitos sexuais de cada pessoa. Alguém com vida sexual ativa, ou seja, com pelo menos três encontros por semana, começa a sentir os primeiros sinais de sofrimento após cerca de 30 dias sem sexo. Por sua vez, quem possui um intervalo maior, de 15 a 20 dias, não costuma se preocupar caso fique sem de três a quatro meses.
Um jovem de até 29 anos, com a libido em dia, sem dificuldades de se manter sexualmente ativo — ou seja, tem ou consegue arranjar parceiro, é saudável e tem local para o encontro —, consegue em média ficar cerca de oito semanas (ou dois meses) sem ver o início das manifestações de “sofrimento” e se indagar se há algo errado com ele.
De acordo com um estudo do Instituto Kinsey para Pesquisas em Sexo, Gênero e Reprodução, nos Estados Unidos, a frequência sexual varia de acordo com a idade, depende de diversos fatores, como estilo de vida, saúde e libido, e tende a cair ao longo dos anos.
Os jovens de 18 a 29 anos, por exemplo, têm em média 112 relações sexuais por ano, o que corresponde a três encontros semanais. A média cai para 86 entre adultos de 30 a 39 anos, o que equivale a cerca de 1,6 atividades sexuais por semana. O grupo da faixa etária de 40 aos 49 anos tem um total de 69 atividades por ano, ou seja, 1,3 encontros sexuais semanais.
— É normal ter essa queda no número de atividades sexuais com o decorrer dos anos em razão do aumento de responsabilidade. Os adultos têm emprego, filhos, orçamento doméstico, entre outras situações que acabam tirando o sexo do primeiro plano — explica Abdo.
Há quem não goste de sexo?
É comprovado que o sexo faz bem para à saúde, com a liberação de hormônios e substâncias que trazem sensações de felicidade e prazer. Ele oxigena os tecidos e a pele, torna o indivíduo mais alerta, além de reduzir o risco de ataques cardíacos, derrames cerebrais e outras doenças cardiovasculares.
Existem pessoas, entretanto, que não se interessam por sexo mas conseguem canalizar a libido para outras atividades, projetos e missões e obtêm os mesmos benefícios para a saúde física e mental. Há também pessoas que se desinteressam pela vida sexual em um dado momento, porque estão focadas em um projeto profissional, por questões religiosas, familiares, por falta de tempo, ou por problemas sexuais como a ejaculação precoce. Os dois tipos de não praticantes provavelmente não terão problemas graves de saúde, pois o jejum é fruto do livre-arbítrio e não há incomodo ou sofrimento.
No caso de Elon Musk, em setembro fará um ano que o empresário se separou de sua última mulher, a cantora Grimes. Em fevereiro deste ano, ele foi visto publicamente com a atriz Natasha Bassett. Não se sabe há quanto tempo ele pode estar sem atividade sexual, porém, para a psiquiatra Carmita Abdo, “não é habitual” um homem na posição de Musk, aos 51 anos, ficar “anos” sem sexo.
Os sintomas do sofrimento por abstinência, caso seja involuntária, incluem crises de ansiedade, que podem se traduzir em enfraquecimento do sistema imunológico e abrir caminho para doenças virais, bacterianas e infecções generalizadas. A redução da autoestima provocada por estar excluído do jogo sexual pode evoluir a longo prazo para um quadro grave de depressão.